Pai de turista morto em Jericoacoara não acredita que filho comprava drogas e usava símbolo de facção: 'Querem inverter a situação'
21/01/2025
Henrique Marques de Jesus, de 16 anos, foi encontrado morto na cidade cearense em dezembro. O pai, Danilo Martins de Jesus, afirmou que a polícia nunca o manteve informado sobre os detalhes da investigação e revelou que o filho vestia uma roupa azul, não uma com símbolo de facção. Vídeo mostra momento em que turista é arrastado por vários homens, antes de ser morto
O pai de Henrique Marques de Jesus, adolescente de 16 anos que foi sequestrado e morto por criminosos na Vila de Jericoacoara, no litoral do Ceará, não acredita que o filho tenha sido assassinado após tentar comprar drogas, nem que usava uma camisa estampada com o yin yang, símbolo milenar chinês, que, segundo a polícia, também seria usado pelo PCC.
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"O que eles [policiais] querem fazer é, como fazem sempre, inverter a situação para o lugar [Jericoacoara] não perder os turistas", disse Danilo Martins de Jesus, que é morador de Bertioga (SP).
Henrique foi encontrado morto após desaparecer na Vila de Jericoacoara em 17 de dezembro de 2024. A morte foi confirmada pelo pai no dia seguinte. O corpo estava perto da Lagoa Negra, um local afastado do centro da vila e que costuma ficar deserto à noite.
Conforme relatado por uma fonte policial, o jovem usava a roupa com o símbolo yin yang quando tentava comprar drogas em uma "boca" dominada pelo Comando Vermelho, grupo rival do PCC. O pai de Henrique, no entanto, não acredita nessa linha de investigação e a considera mentirosa.
Danilo, que tem 33 anos e trabalha como empreiteiro no litoral de São Paulo, disse ter recebido todas as informações sobre o caso por meio da imprensa, "desde quando acharam o corpo até hoje".
Segundo ele, a falta de contato por parte da polícia o afastou da investigação da polícia cearense. "Se dependesse deles, eu não sabia de nada até agora", se queixou o pai.
Cadê a camiseta?
Segundo linha de investigação, adolescente morto em Jericoacoara usava camisa com símbolo que representava facção rival a dos suspeitos do crime.
Reprodução
Danilo contou ao g1 que Henrique vestia uma camiseta diferente da citada pelos policiais no dia em que foi morto. Ele inclusive questionou como os agentes sabiam que o jovem usava uma roupa com o símbolo yin yang, se ela não foi encontrada.
"[A camiseta que ele usava] Era a azul escura, da marca Adidas, a mesma que o adolescente vestia na foto em que aparece fazendo o símbolo "tudo três", lembrou o pai do garoto.
O g1 entrou em contato com a Polícia Civil do Ceará para informações atualizadas sobre o caso, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
'Podem falar o que quiserem'
Turista desaparecido em Jericoacoara é visto por imagem de câmera sendo imobilizado por vários homens
Reprodução
O empreiteiro ressaltou que Henrique era um bom garoto e que, agora, nada que ele faça vai reverter o assassinato do filho.
"Já aconteceu, eles [policiais] podem falar o que quiserem. [...] não vai adiantar de nada. Então, eu não estou fazendo questão [de saber nada] porque eu sei que a Justiça é muito fraca aqui no Brasil", lamentou.
E os gestos?
Danilo lamentou o fato de que muitos símbolos foram apropriados por facções. Inicialmente, a informação divulgada era de que Henrique teria sido morto após ser confundido com um membro de uma facção rival dos criminosos que o sequestraram, devido a gestos com as mãos.
"A gente não pode fazer mais nada que é envolvido com facção? Eu estou trabalhando aqui, embaixo do sol quente. Se eu tirar uma foto e fizer um símbolo, quer dizer que sou envolvido com alguma coisa?”, questionou Danilo. “Isso aí é um pretexto que eles colocam", disse.
Luto persiste
Três suspeitos de envolvimento na morte do turista foram capturados. Segundo a Polícia Civil, entre eles, estão dois adolescentes e um homem de 36 anos, apontado como chefe de um grupo criminoso de Jericoacoara e mandante do crime que vitimou Henrique. O homem já estava preso quando foi cumprido o mandado contra ele.
Mesmo com as recentes capturas, Danilo revelou ao g1 estar sentindo o mesmo de quando o filho foi morto.
"A mesma dor, a mesma falta, a mesma coisa. Vai ser preso [o criminoso], mas sai, né? O meu filho que está preso, não sai mais nunca", afirmou.
Investigação
Inicialmente, a polícia havia divulgado que Henrique havia sido assassinado por posar para fotos fazendo o símbolo "tudo três", que, na linguagem de facções, remete ao PCC. Conforme o pai de Henrique, ele não sabia do significado do gesto.
Ainda conforme relatado por uma fonte policial ao g1, conforme novos indícios apurados pela Polícia Civil, o adolescente teria ido ao encontro dos criminosos para comprar drogas, porém, o desenho na camisa que ele usava chamou a atenção dos assassinos, o que resultou no sequestro seguido de morte.
Com essa nova descoberta, a hipótese de que o crime foi motivado por conta dos gestos com as mãos feitos por Henrique em fotos começou a perder força.
Vídeo mostra momento em que jovem é arrastado por vários homens, antes de ser assassinado em Jericoacoara
Reprodução
Símbolo apropriado por facção
Segundo a fonte, a camisa que Henrique usava no momento que foi sequestrado tinha a figura de uma meia lua yin-yang, que no taoismo chinês representa a dualidade e a complementaridade dos opostos, mas no mundo do crime faz alusão ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A camisa do adolescente com a imagem não foi encontrada pela polícia. Nas imagens das câmeras que mostram Henrique sendo levado à força por vários homens, ele já aparece sem blusa.
Além da meia-lua, o PCC tem como simbologia o número "três", costumeiramente feito pelo turista nas fotos. Apesar da coincidência, o pai do jovem já havia relatado ao g1 que o filho desconhecia que o significado desse gesto era ligado a facção criminosa.
Os suspeitos de matar Henrique são membros do Comando Vermelho, rival do PCC, que tem como símbolo o número dois, além do desenho de uma foice com martelo, imagem ligada ao surgimento da facção.
Antes de ser morto em Jericoacoara, turista fez fotos com gestos sem saber que era símbolo de uma facção criminosa atuante no Ceará.
Arquivo pessoal
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